terça-feira, 12 de outubro de 2010

A gente inventa muita coisa para mitificar a morte

As pessoas inventam muita coisa pra mitificar a morte e, de tanta coisa que inventam, não se sabe no que acreditar. Se é verdade que há um paraíso e um inferno ou se há um purgatório para pagar-se pelos pecados, e por aí segue. E, com isso, os que continuam vivo sofrem pela perda porque, tirando sentido religioso e filosófico, o que acontece é que quando a morte chega, acaba tudo. Não importa se foi um herói nacional, um grande líder ou um vagabundo qualquer, ces't fini! Ficam para trás os irmãos, tios, primos, filhos, maridos, esposas, pais, amigos, colegas, vizinhos, cachorro, TUDO. É um pedaço de cada um que se vai, uma dor que a gente procura esconder, mas continua existindo.
Para os que continuam vivos, sempre resta a dúvida e a incerteza. Eu, você, sua namorada, qualquer um pode ir a qualquer hora. Um descuido e já era! E a agonia pode destruir uma família, traumatizar outras vidas, indignar todo mundo. E não adianta chorar e rezar, não muda: o livro acaba sem ter final.
A morte não está nem aí para nós, ela tem “vida própria”. A gente vai para um lado, o corpo para o outro. Ela nos ignora, nossos méritos, nossas obras. 
(Arnaldo Jabor)

A morte e as vidas que continuam

A gente passa a vida se preocupando com tudo e com todos que queremos bem. Amigos, parentes, colegas de profissão... Mesmo sem perceber, estamos sempre pensando em proteger. "Não vai tomar chuva", "me liga quando chegar lá", "é melhor não dirigir pela estrada à noite", "abre o olho, você vai perder de ano". Enfim, sem perceber a gente vive pra cuidar da vida de quem a gente ama. Aí vem a ironia da vida (ou da morte, se prefere assim pensar): se não há mais NADA de ruim que possa acontecer a essa pessoa, a morte seria um remédio que livrasse de tudo o que as outras milhões de pessoas pudessem fazer pra machucá-la. Mas não, o coração não sente isso, aliás, o coração não consegue compreender que ela morreu, a ficha não cai!
Nos últimos 40 dias morreram 3 pessoas muito próximas a mim: minha tia Rosita, de infarte; meu avô, de câncer; e, por último, minha tia Leila, de acidente de carro. As duas primeiras mortes eu consegui enfrentar e até entender, mas a de domingo passado eu não consigo! Como uma pessoa tão bonita, 33 anos, voltando de um culto, usando cinto de segurança e tudo, pôde morrer assim!?
A causa da morte foi um corte profundo na veia safena, na perna, na altura da virilha, as primeiras informações foram de que foi o cinto de segurança que fez o corte, mas pelo lugar onde teve o ferimento não dá pra acreditar nisso. Ela estava no banco de trás, e o outro carro que vinha na contra mão bateu só na parte da frente, no lado do carona. Meu primo, o filho dela de 6 anos, estava sem o cinto e deitado no colo dela, mas, ainda bem, não aconteceu nada a ele. Não teve nenhum ferro ou outra coisa que pudesse ter perfurado a perna dela, então, até sair o laudo, ninguém sabe o que houve.
Além de tudo, ainda teve o fato de que os para-médicos trouxeram para o hospital de Teixeira - o único preparado - apenas o motorista bêbado (já morto) do carro que estava na contra mão e o homem que estava com ele. Minha tia, o marido e o filho foram levados pro hospital de Medeiros Neto, que na hora estava sem médicos NEM enfermeiros para prestar socorro. Isso é um absurdo! Se tivesse trago pra cá (ou se tivessem preparo em Medeiros), talvez teriam conseguido controlar a hemorragia e ela não teria morrido. Mas, como disse o grande Arnaldo Jabor, "A morte não está nem aí para nós, ela tem “vida própria”. A gente vai para um lado, o corpo para o outro. Ela nos ignora, nossos méritos, nossas obras."
Essa rodovia que liga Teixeira a Medeiros Neto (BA 290), já foi palco de muitos acidentes. Praticamente toda família de Medeiros Neto já perdeu algum parente nessa estrada. É reta, cheia de buraco e não tem acostamento. Resultado: o motorista se empolga por que é reta e anda em alta velocidade. Aí quando vê um buraco e vai desviar, não tem acostamento e o outro veículo que vem não tem pra onde se proteger, daí mais um acidente. O deputado que conseguisse que um projeto de duplicação fosse aprovado, pode ter certeza: seria reeleito quantas vezes fosse candidato. Fica a dica pra Timóteo, que, agora, vai ser o único representante da nossa região na assembléia.